O presidente nacional da OAB, Claudio Lamachia, publicou artigo nesta quinta-feira (25) no jornal “Correio do Povo”, no qual analisa a gestão das agências reguladoras. “Em sua grande maioria, elas não têm cumprido o real papel para o qual foram criadas, revelando-se, muitas vezes, meros espaços para aproveitamento de apadrinhados políticos”, afirma. Leia abaixo o texto completo:
Para quem trabalham as agências reguladoras?
Por Claudio Lamachia, presidente nacional da OAB
Não é de hoje que o papel das agências reguladoras brasileiras merece ser objeto de uma análise profunda. Em sua grande maioria, elas não têm cumprido o real papel para o qual foram criadas, revelando-se, muitas vezes, meros espaços para aproveitamento de apadrinhados políticos.
A má condução da Anatel levou o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) a requerer, em junho, o afastamento do presidente que recentemente se antecipou e preferiu renunciar, encerrando um mandato marcado pelo aparelhamento do órgão em favor de medidas absurdas destinadas a aumentar os lucros das empresas do setor e prejudicar os consumidores brasileiros, em especial quanto ao uso da internet – um serviço fundamental para que as liberdades de expressão e de informação sejam garantidas, como manda a Constituição.
O interesse público deve voltar a ser prioridade da agência, dando sentido aos milhões de reais, de dinheiro público, usados para custear o órgão – neste ano o orçamento da Anatel é de R$ 207,7 milhões, segundo o Portal da Transparência.
A OAB envidará todos os esforços para garantir os direitos dos cidadãos e a moralidade na administração pública. Um órgão público que deveria defender os direitos do consumidor e fiscalizar o mercado não pode permitir que as empresas de telefonia – que prestam um serviço caro e de péssima qualidade – aumentem ainda mais o preço da banda larga, impondo um ônus maior ao cidadão sem sequer oferecer contrapartida de melhora. Superar a crise ética e econômica que abate o país exige mudança rápida nos péssimos padrões que caracterizam a condução da máquina pública. O Estado deve agir em favor da sociedade e não de um grupo de empresas campeãs em recebimento de reclamações.
No mesmo sentido, a OAB acompanha as ações das demais agências reguladoras. Infelizmente, o caso da Anatel não é isolado. Neste mesmo momento, a Ordem dos Advogados recolhe assinaturas contra uma medida da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) que visa a encarecer, ainda mais, o preço das viagens de avião no país. A lista de apoiadores será anexada à ação judicial que a OAB moverá contra a Anac.
A ideia da Anac é acabar com o direito dos passageiros de embarcarem, sem pagar, uma quantidade mínima de bagagem. As empresas aéreas passariam, então, a cobrar quanto quisessem por esse embarque – somando ao custo da passagem um novo custo de embarque de bagagem.
Os valores da democracia e da República impõem uma necessária separação entre o que é público e o que é privado. Dificilmente alguém argumentará abertamente contra essa concepção saudável de Estado. Mas é preciso muito trabalho para fazer esses valores serem aplicados na prática. A OAB cumpre o papel que lhe foi atribuído pela Constituição, de ser guardiã dos direitos e garantias dos cidadãos.
Fonte: Conselho Federal
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